Identidade secreta (by Jonas Vieira)

Boa tarde a todos. Hoje o nosso parceiro, Gabriel (Maizena), mandou-me um e-mail com um texto de um jovem, chamado Jonas Vieira. Abri, li e subitamente veio-me as lembranças da infância, quando sentava-me defronte à televisão para assistir desenhos com heróis, vilões, magia e coisas que, com o passar do tempo, foram sumindo do cotidiano da sociedade. Assim como eles compartilharam este texto comigo, gostaria de compartilhar com vocês.

Foi um dia desses… Não tem muito tempo, e fui atacado pelos heróis e vilões de minha infância. Uma seção de nostalgia, Good Times. Tive a oportunidade de rever a abertura dos desenhos animados e seriados que assistia quando criança.

Inevitavelmente as lembranças vieram à tona. As músicas – grande parte em japonês – que ninguém cantava melhor que eu, as coreografias que executava com a maestria do balé russo, e todo aquele conjunto de símbolos que compunham o espetáculo. Confesso que eles já não brilhavam tanto como antes e nem eram tão reais como outrora. Mas sua representação na construção de minha infância é indiscutível.

Foram muitos os vilões que tive de enfrentar em combates que quase morri. Perdi a conta das vidas que salvei e das vezes que impedi que o mundo fosse destruído. E os desavisados que não pertenceram a essa geração, não tem idéia de como era difícil operar o Megazorde com problemas no sistema central. Era uma vida difícil, arriscada, mas que eu gostava muito. Todos os dias uma ameaça diferente, e todas claro, terríveis! Tudo sempre com hora marcada, porque depois das onze e trinta eu tinha de almoçar e ir pra escola.

Fiz amigos, inimigos – mas gostava desses também – precisava deles para o outro dia – os heróis se justificam nos vilões – Tive algumas namoradas, mas nada que durasse muito tempo, o dever falava mais alto. Tão alto quanto os penhascos que era jogado e caia sobre o pobre sofá da sala. O mesmo que servia de impulso para saltos triunfais com quedas precisas quanto as de um felino. Já tive espada, escudo, carros, (motos então… nem se fala) já voei, fiquei invisível, e tudo o mais que minha criatividade julgasse necessário.

Hoje posso contar, falar com orgulho de tudo isso. Em casa ninguém mais sabia, e era melhor que fosse assim, não poderia colocá-los em risco. Hoje minha identidade já não é mais secreta. Naquela época também não, porque dia após dia, a cada luta ela se constituía, formava-me naquilo que de fato sou. Já fui Jaspion, Jiraya, fui um dos Power Rangers (Azul), já estive no castelo de Grayskull, e já vesti a armadura de Pégasus.

Creio que sou uma constituição dos fragmentos de tudo isso. Dos deveres, das emoções, das alegrias e expectativas de um mundo de fantasia. A abstração de tudo isso construía a realidade a minha volta. Talvez eu esteja errado, e não seja nada disso. Por ora não me importo muito. Como foi outrora…

“Eu não quero ter razão, eu quero é ser feliz” – Ferreira Gullar

Jonas Vieira

Sobre @nickr4mos
Metamorfoses são naturais. Caso contrário mudanças seria aberrações.

Deixe um comentário